domingo, 8 de agosto de 2010

MARIPOSAS SEM ASAS

"As mariposas são positivamente fototáxicas. Elas parecem encantadas pela luz da sua varanda, pelos faróis do seu carro ou por uma fogueira. Embora não haja nenhuma explicação definitiva para esse fenômeno, existem teorias interessantes".
as mariposas são positivamente fototáxicas. elas parecem encantadas pela luz da sua varanda (com vista para o mar), pelos faróis do seu carro (último modelo) ou por uma fogueira (sua lareira). embora não haja nenhuma explicação definitiva para esse fenômeno, existem teorias interessantes sobre a real natureza humana. aqui exemplifico uma milésima fração do que pode estar por trás de cada máscara que cada um carrega ! os interesses e maldades parecem suplantar qualquer outra coisa parecida ao bem na contemporaneidade! esses comportamentos e desejos, criam formas quase inumanas de seres que transitam livremente mas que nem todos veem! eu os vejo e resolvi chamá-los de mariposas sem asas.
observei este fenômeno à medida da consciência que tinha das minhas asas. comecei a observar espectros de gente que existem a me rondar ou a se afastar. no início, aterrorizada, evitava olhar. horripilantes! mas, que na realidade, apresentavam-se com formas diversas, segundo seus interesses. asas gigantes, cintilantes e coloridas! fácil cair no abraço destas mariposas encantadas. mas nem todas tinham esta inteligência. carregavam nas costas o que há de mais asqueroso de uma mente voltada para a escuridão da caverna! mas a mim restava o mau cheiro, a sensação de opressão, a gosma de cada vômito verde! vejo o que é!
tentei fugir! mas elas me rondavam. me chamavam. me achavam. talvez vissem em mim a presa certa. eu poderia levá-las às almas mais apetitosas para a sede de mal que tinham. conhecia ogros, essa era minha cina! então, de tanto correr, não fugi mais. resolvi caçá-las, sendo caçada, levando-as ao que mais desejavam! a destruição em êxtase autofágico de dois pólos maus!
andei nas ruas, nos becos, nas esquinas... com minhas asas sempre bem guardadas! assim como estas, que chamo de mariposas sem asas, sou a antítese que procura se aproximar da maldade para, talvez, reforçar e justificar a minha sempre "bondade". aprendi a adorar, farejar, rastrear e atrair as mariposas sem asas. tenho uma sensação de poder após perder quilos e litros de minha própria alma, aceitando, pacificamente, o contato asqueroso destes seres. mas...minha função é atraí-los! ao menos não tenho que juntar suas falsas asas que caem de segundo a segundo como uma chuva surrealista de leve, pesado, colorido, opaco. e assim é!
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as mariposas perdem forças
só os anjos têm asas! elas não têm. fingem que as têm. na verdade se arrastam como vermes pelas ruas. não chegam longe. usam seu pequeno cérebro para engenhos que geralmente se frustram. porque a teia que armam é tão rudimentar quanto a sua característica física e os desejos que possuem. estes desejos são a medida de suas inteligências.
mas por que estas perderam as asas? sempre viveram a vida às cegas. as asas la estavam, mas nunca as viram. e quando viam uma mariposa voando, alto, isso pode acontecer, não se identificavam. sempre preferiram rastejar. entre as casas, entre os becos, nas estradas atrás da luz alheia.
não é difícil identificá-las. faz-se necessário porém, porque são perigosas, ardilosas, invejosas, oportunistas. estão sempre à espreita. sempre à espera de uma chance, de uma oportunidade, de uma abertura. elas nunca olham nos olhos. falam manso. quietas e observadoras. pensam pouco e agem mais. não há escrúpulos ou ética para as mariposas sem asas...não existe o meu limite ou, talvez o seu. assim explico. para entender a compulsão, obsessão que faz parte de mim agora. caçar!
tenho que explicar. a minha função é atrair e levá-las a sua determinação auto destrutiva. há quem colha asas, assim como colhemos flores! as asas caem e tem que ser recolhidas. em minhas andanças descobri que tinha parcerias. mas há um acordo tácito, mudo onde cada um faz o que tem que fazer. nós nos reconhecemos. e basta!
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asas caídas ... um pouco do trabalho do outro!
hoje o dia se fez mais frio. andar nas ruas é saber que a natureza é mais forte até mesmo que os nossos instintos mais humanos. caminhando vi muitas asas caídas! quanto cinza. as cores entrecortadas, às vezes, de um azul celestial, não ultrapassavam à graduação entre o preto e o cinza. as asas ao chão variavam de coloração e brilho. algumas brilhavam. outras eram quase transparentes. outras muito opacas. quantas asas caem ao chão! não é necessário estar em um pequeno ou grande lugar. cada comportamento se torna proporcional ao tamanho geográfico. e mais proporcional ao tamanho dos vícios adquiridos. nada suplanta a verdadeira máscara. boa educação, cultura, trejeitos, maneirismos, na verdade cada um, sendo como é, faz parte de um mesmo pacote humano. os vícios estão em toda parte. a maldade. a perversidade. a loucura. a psicopatia. se vê muitas asas de psicopatas caídas. estas são quase irreconhecíveis. não tem cor, mas cheiram muito mal. é um horror ver uma destas! melhor não vê-las. mas para quem é inevitável não tocá-las, não empacotá-las...tudo se torna comum. as asas saem a voar se não são destruídas. na maioria voltam aos donos. monstros, vampiros, fantasmas ou espectros de homens que às soltas não pensam em outra coisa a não ser fazer o mal. eles nem sempre são tão horripilantes quanto sua verdadeira imagem. aparecem celestiais. como anjos lindos muitas vezes! e nunca vi um anjo. com asas magníficas e sedutoras... mas, cedo ou tarde, as asas caem! sendo recolhidas dia após dia. a sujeira infecta às cidades! uma sujeira psíquica. imperceptível! que impregna o inconsciente coletivo. ahhh mariposas! quantas! sem gênero. há porém os recolhedores de asas. às vezes quilos, toneladas levadas ao lixão. o que quer dizer que caem cedo ou tarde. mas estes varredores de rua, não são vistos. eu os vejo. somos parte de um mesmo pólo!
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calibri ... um contato!
virei a esquina e la estava ela. sim, ao longe avistei uma mariposa sem asas. ao mesmo tempo que queria retroceder, algo me atraía. seus olhinhos apertados, aquele sorrisinho! se aproximava mais e mais. alguma coisa queria. nenhuma mariposa sem asas se aproxima se não quer ganhar algo. minha curiosidade suplantou qualquer temor. a um metro já via seus tocos de asas pustulentos. nem todo mundo vê o que eu vejo. às vezes é aterrorizante, às vezes não, é até bonito. dependendo do grau de inteligência elas até mesmo fingem ter asas deslumbrantes. naquele dia as minhas estavam em casa. sim, as tenho. mas não as uso porque encontro mariposas sem asas sempre. se veem minhas asas, não se aproximam. ela se aproximou e se encostou. uma gosma fétida ficou no meu braço. imperceptível a olho nu. voz mansa, pausada falou do dia a dia. pude ver nas suas botas que andara por cemitérios. qual alma desejava aquela criatura? e por que eu? continuei ali parada com ela ao meu lado. ah, os cemitérios? lugar preferido delas para o descanso. olhava para mim através de um óculos pesado, escuro e mal cuidado. esta pertencia ao mais baixo estágio de vibração. mal via a luz do dia! convidou-me a andar. fui. desinteressada e curiosa. pediu meus endereços. sentia-se só! uma mariposa sem asas não sente. mas fiz que acreditei. dei meus endereços e me retirei. saindo do meu lado deixou aquele rastro familiar. a opressão pura! abri meu computador e la estava, figura opaca a me fazer perguntas. na tela respingava a gosma virtual, de cor verde. quando uma mariposa não come há tempos, vomita essa gosma. eu via aquilo meio surpresa pelo efeito visual que causava. quanto mais ela teclava, mais a gosma se espalhava. às vezes pedia que teclasse novamente a mesma frase. a gosma ocultava as palavras. ardilosa ia tecendo sua teia. em sua crença havia pego uma alma. de repente me fala do ogro. sim, conheci um ogro. aí percebi que o interesse estava em se aproximar do ogro. porque se alimentar de um ogro da mais anos de vida e maldade! disse que ele estava no lugar de sempre. no seu castelo escuro e mal cheiroso com o seu poder grande de construir e destruir. essa era sua função diária já que não tinha mais dentes para comer crianças! ela ouvia com atenção. foram horas, dias, semanas, meses de um falso contato até que a verdadeira história se descortinou. a minha função é quase a de uma detetive ou aproximadora destas almas! pasma, porque sempre me surpreendo mesmo não sendo a primeira vez, acessei o quadro mais surrealista que já havia visto. o ogro, que havia conhecido, abraçado a uma mariposa sem asas. essa mariposa, magra, esquálida, faminta de alma era da mesma espécie da que me abordara. as mais perigosas! os dois juntos formavam uma cena de terror. um ogro prisioneiro de uma mariposa sem asas é algo fantástico no mundo das maldades. imediatamente cortei toda comunicação com a mariposa que me abordara. é assim que sempre acabam esses contatos. tenho que preservar minhas asas. olhei mais uma vez aquele quadro e percebi, assustada e não muito assustada, que o ogro ja não tinha uma orelha. que faminta esta mariposa esquálida! à medida que voltava às ruas, à procura de ver e atrair novas mariposas sem asas, pensava: pobre ogro! tão forte e tão assustador ali ao lado daquela mariposa! mas dizem que quando duas criaturas destas se encontram é para cumprir o ritual autofágico de um comer ao outro, e a si mesmos, até desaparecerem! ... se assim for, algum fundamento existe para esta função que se tornou uma obsessão dia após dia. sim, obsessão! porque é uma força de atração! o bem e o mal se diluem numa mesma realidade nas ruas que percorro e nos contatos que estabeleço. assim é! ...
descanso
tempos de calmaria. não ouço os carros, buzinas ou alarmes. alguma coisa se aquietou. desta vez o mundo me observa. trago em mim um ar de satisfação, indecifrável. quantas são as pessoas que neste mesmo momento se debatem como peixes fora da água, agonizantes! sei que muitos em desespero se atiram de andares, dão cabo a uma vida que lhes parece insignificante. mas a mim isto não ocorre. sinto esta paz reconfortante de quem atravessou a nado o canal da mancha a uma temperatura de 40 graus. cheguei a outra margem. quase purificada. quase anjo. quase um deus! me amedronta a calmaria sem uma tempestade que a antecede. porém, sinto-me privilegiada com a calmaria após a grande tempestade. aí sei que algo em mim se transforma. sei que algo de verme, de vírus, de bactéria está tomando o rumo da saída. andar com humanos tem dessas coisas. somos contaminados. os vampiros estão em toda parte, as mariposas sem asas. as minhas asas estão guardadas. prontas para serem usadas no momento certo. escondi minhas asas. esta foi minha estratégia. a elas ninguém furtou. observo as mariposas se debatendo no vidro do meu quarto, na janela da sala. querem entrar. hoje não! chego a ter pena porque, coitadas, às vezes se dão conta que são manetas, mal podendo voar. estão desesperadas. querem almas humanas. ouço o lamento de um canto misturado a gemidos a atravessarem as paredes. eu não as temo. nunca as temi. porque sempre soube do lugar que elas ocupam nesta cadeia alimentar. elas são alimentos para os vermes! para ogros! a calmaria chegou. minha alma está feliz. ouço de longe o lamento daqueles que em grupos conspiram, tramam e acham que conseguirão brilhar. o brilho é natural. não se compra. não se acha por aí. não se ganha. pode-se roubar, mas não por muito tempo! o brilho não está em qualquer um. a calmaria dança no meu estado de ser. talvez ao mesmo tempo, asas voam despedaçadas neste céu cinzento de chuva. óh raça humana! tão medíocre nos seus planos. tão pequena nos seus atos. tão burra nos seus gestos. a imensidão da minha alma sobrevoa o lugar amado. sinto nele a desolação! jogo um pouco de brilho... no fundo tenho pena, só pena. mas as mariposas sem asas vestem-se de preto agora. choram o luto da viúva. pobre ser inferior. a chuva cai la fora e é domingo. hummmmmm o bom cheiro da terra molhada...





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